quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O novo que virá

O sol se põe, deixando a tarde mais sombria e mais bonita; e a noite vai chegando devagarinho. O céu fica um azul mais escuro, e as estrelas vão aparecendo. Depois, o breu. Então, a luz da lua faz iluminar. E a noite se faz total onipresente, imponente.
Mais horas se passam, num girar sem notar do planeta, e o sol novamente surge para dar luz a um novo dia. E assim, tudo outra vez. Assim, a vida vai se completando, para cada um, a sua forma. Ele nasce, ilumina o mundo, e tudo acorda para viver.
Criatura e as suas determinações. Seus instintos puros e impuros, sempre sob os julgamentos de um tal deus. Essa é a vida que se ensina, a vida que se aprende. A vida que as pessoas creem e querem amar.
Mas há algo diferente que acontece quando completa-se exatos 12 meses, a terminar em 31 de dezembro. Aí, uma certa magia de esperança injustificada e até, porquê não dizer, ilusória, de que tudo irá ser diferente, para melhor, simplesmente porque "os tempos são outros", contagia emocionalmente todos.
Nestes afloramentos sentimentais coletâneos, a certeza é de que tudo será positivo e melhor no dia porvir logo mais. Que as pessoas serão mais educadas, mais belas, mais ricas, mais inteligentes, mais tudo de bom que haja para se desejar.
Festeja-se com champanha, enquanto molhando os pés no sal do mar, a centenas de pedidos aos santos e estrelas que sejamos abençoados pelo que tivermos que sermos - pela água, pelas montanhas, nuvens e ar -, mais fortes, mais maduros, tolerantes, compreensivos e etc dali pra frente; relembramos pessoas, choramos a nostalgia de momentos felizes, e a tristeza dos ruins; lamentamos, despreparados, os nossos erros e sofremos os arrependimentos de atitudes bobas e desesperadas que partiram de nossas mãos.
Mas ao nascer do sol do dia seguinte, ao passar do porre, alcoólico ou o emocional - de alegria -, percebemos, fria e decepcionadamente, que tudo está igual. Os nossos problemas são os mesmos. Nossos defeitos. Medos. Anseios. Nada está diferente do ano que passou em algumas horas atrás.
Sabemos, pois mais maduros, e não por que o ano mudou de numeração, mas porque amadurecemos a cada instante, a cada migalha de dor, ou de felicidade, que teremos, se tivermos sorte, que enfrentarmos tantas provações ao longo dos nossos próximos minutos.
Sabemos, pois não tão burros, que a vida continua e se algo muda é o nosso jeito de tratar do que temos, sejam as coisas boas ou ruins. E que os pesos dos nossos carmas são pesos que teremos que carregarmos sós. E que as nossas dores só tocam a nós, e que mesmo repartidos, são nossos, e de ninguém mais.
E nessa reflexão que deprime após tanta euforia nas promessas e almejos no "tudo agora será diferente" - na imaginação inocente de que tudo será perfeito - a queda é de um degrau gigante, que nos remete à vida real; a realidade da qual não podemos subterfugiar em canto algum do universo.
E assim... segue o otimismo com suas facetas. A virada do ano é mais uma. Um motivo, uma data, para que todos tenham a fé de serem o que desejam ser momentaneamente ou futuramente.