sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ideologia... eu quero uma pra viver?

Está aí um assunto que me interessa, e intriga. Ideologia. O que é? Eu quero uma para viver?
Sei que trata-se de um conjuntinho de ideários, de pensamentos, conceitos, que, nesta loucura diária, se perde aos pingados em nossas entranhas num perdido qualificado em confusão geral. Ou, ainda, vai-se às palavras proferidas diante o que nos surpreende na doidera rotineira. Doideira porque é rotina e ainda consegue ser surpreendente. Portanto, sem razão.
Nossas persepções do ontem se modificam a cada instante do novo dia e a visão que temos ora nos perturba num novo amanhecer cheio de reviravoltas morais.
Por isso a crítica é tão absurda. O julgamento tão desaprorpriado. Exatamente porque julgamos atitudes de outros que podemos vir a imitar logo mais; ou, simplesmente, porque não estamos dentro das emoções alheias, tampouco vivenciamos o que não é nossa história. Essa é a instiga.
Se o mundo muda a cada minuto, é porque nós mudamos também. Pois, quem faz o mundo ser como é, a não sermos nós mesmos...? E ainda falamos "o mundo", como se ele tivesse vida prórpia, como se não fosse pouco parte de nós, como se não fosse resultado de nossas ações e omissões. Os homens sempre querendo fugir às responsabilidades...
Acredito muito na base dos nossos ideais. Em nossa ética ou falta desta. Neste conjunto de coisas que formam nosso caráter, bom ou ruim, bom e ruim, do jeito que dá para ser... Mas não creio numa ideologia formada, de uma vida, de um indivíduo. Não.
A ideologia vem para mim mais como uma coisa meio imóvel. Que não se mexe, muito distintamente de nossos pensamentos, e conceitos, e vontades, e desejos, que mudam freneticamente.
Talvez isso pareça muito prolixo. Um amontoado de ideias confusas para enlear opiniões internas, mas vale a pena fazer o teste. Veja um filme, pense sobre ele, e reveja-o dois ano depois.
Seus sentimentos permanecerão idênticos, imutáveis aos de outrora? Ou as situações e sensações deste espaço de tempo lhe farão mudar um pouco seus cenceitos?
A mim, ideologia vai e vem. Diferentemente daquilo que queremos. Querer é mais fácil. Surge de repente e só sabemos senti-la. Mas as ideias, os pensamentos, não.
Por isso sentir é mais fácil do que pensar, refletir, explicar.
Mas, sim, eu quero uma ideologia para viver. Eu acho...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Relatos de sexta à tarde

Caminhava rumo ao centro de Porto Alegre, em plena sexta-feira.
Antes, para chegar a estação da Trensurb Canoas, para ir até o Mercado, uma verdadeira maratona. O simples caminhar torna-se tarefa de atleta, driblando as pessoas espaçosas e aos montes. Que não sabem andar em multidão, e acabam atrapalhando e atrasando quem está com mais pressa.
Chegando na estação, um amontoamento de gente, tentando fazer uma fila para comprar em um único ghichê o seu bilhete.
Existem seis, mas aberto, apenas um. Penso que talvez os outros existam para dias de movimento. Mas, o que chamariam aquela sexta-feira, véspera de feriadão?
Espero, não pacientemente, mas comportada, minha vez. Com certo nervosismo, tento catar as moedas do bolso e acomodá-las em minha mão. Chata aquela espera. Um medo repentino de ouvir o trem estacionando, e ainda estar ali.
Fui atendida. A rapidez no atendimento é subjetiva... às vezes se tem sorte...
Eu tive sorte com o trem naquela tarde quente. Assim que desci a escada rolante, lá estava ele, parando devagar, e as dezenas de pessoas se aglomerando nas portas. Me cheguei perto, e fui com a multidão.
Dentro do trem aquele abafado. Cansada, sentei-me no chão. Que era o lugar que sobrava. Nem livro, nem música, nem nada de munição para vencer aquele tédio. Mas eu já havia vencido uma etapa daquela jornada. Só precisava permanecer ali, quieta, sentada, que logo a estação terminal viria, com a minha chegada.
Mas o saculejo, o balanço do trem, me fez enjoar. Fechei os olhos. Agora não era mais apenas permanecer quieta, sentada, eu tinha que lutar contra a tontura e a dor agúda na cabeça, que estavam a me torturar.
E logo estava eu, cercada de pessoas apressadas, empurrando umas as outras, na corrida pelos corredores. Algumas pessoas cheiram a nata! Senti esse cheiro muito forte em mais de uma. Somos obrigados, quando em público, a sentir os cheiros alheios... os cheiros de cada um.
Mais uma batalha. Estava, de fato, no centro de Porto Alegre. Entro no Mercado Público. Como recepção, aquele fedor de peixe.
Última parte da missão. Esperar. Me posicionei em lugar que eu poderia ficar cuidando. À minha vista, um enorme formigueiro colorido.
Fiquei tonta ao ver tanta gente passando de um lado para o outro. Quanta disposição! A minha energia a esta altura estava completamente esgotada. Aquilo me cansava. Minha pouca paciência se ia. Sem que eu pudesse a prender.
Minutos se tornaram horas e por aí vai. Minha ansiedade tormava formas mosntruosas. E aquele cenário já estava de terror.
E quando já estava quase vencida, quem eu esperava chegou, para me salvar da loucura que eu estavas prestes a encontrar.


Sinara Dutra