sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Relatos de sexta à tarde

Caminhava rumo ao centro de Porto Alegre, em plena sexta-feira.
Antes, para chegar a estação da Trensurb Canoas, para ir até o Mercado, uma verdadeira maratona. O simples caminhar torna-se tarefa de atleta, driblando as pessoas espaçosas e aos montes. Que não sabem andar em multidão, e acabam atrapalhando e atrasando quem está com mais pressa.
Chegando na estação, um amontoamento de gente, tentando fazer uma fila para comprar em um único ghichê o seu bilhete.
Existem seis, mas aberto, apenas um. Penso que talvez os outros existam para dias de movimento. Mas, o que chamariam aquela sexta-feira, véspera de feriadão?
Espero, não pacientemente, mas comportada, minha vez. Com certo nervosismo, tento catar as moedas do bolso e acomodá-las em minha mão. Chata aquela espera. Um medo repentino de ouvir o trem estacionando, e ainda estar ali.
Fui atendida. A rapidez no atendimento é subjetiva... às vezes se tem sorte...
Eu tive sorte com o trem naquela tarde quente. Assim que desci a escada rolante, lá estava ele, parando devagar, e as dezenas de pessoas se aglomerando nas portas. Me cheguei perto, e fui com a multidão.
Dentro do trem aquele abafado. Cansada, sentei-me no chão. Que era o lugar que sobrava. Nem livro, nem música, nem nada de munição para vencer aquele tédio. Mas eu já havia vencido uma etapa daquela jornada. Só precisava permanecer ali, quieta, sentada, que logo a estação terminal viria, com a minha chegada.
Mas o saculejo, o balanço do trem, me fez enjoar. Fechei os olhos. Agora não era mais apenas permanecer quieta, sentada, eu tinha que lutar contra a tontura e a dor agúda na cabeça, que estavam a me torturar.
E logo estava eu, cercada de pessoas apressadas, empurrando umas as outras, na corrida pelos corredores. Algumas pessoas cheiram a nata! Senti esse cheiro muito forte em mais de uma. Somos obrigados, quando em público, a sentir os cheiros alheios... os cheiros de cada um.
Mais uma batalha. Estava, de fato, no centro de Porto Alegre. Entro no Mercado Público. Como recepção, aquele fedor de peixe.
Última parte da missão. Esperar. Me posicionei em lugar que eu poderia ficar cuidando. À minha vista, um enorme formigueiro colorido.
Fiquei tonta ao ver tanta gente passando de um lado para o outro. Quanta disposição! A minha energia a esta altura estava completamente esgotada. Aquilo me cansava. Minha pouca paciência se ia. Sem que eu pudesse a prender.
Minutos se tornaram horas e por aí vai. Minha ansiedade tormava formas mosntruosas. E aquele cenário já estava de terror.
E quando já estava quase vencida, quem eu esperava chegou, para me salvar da loucura que eu estavas prestes a encontrar.


Sinara Dutra

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