terça-feira, 31 de maio de 2011

Música ou poesia

Religasurfe

Enquanto a próxima onda
fico a esperar,
fecho meus olhos,
remo devagar.

No sobe e desce da água,
como um barco a navegar.
Me sinto como um viking,
sem nenhum receio do mar.

Celebro a água, a brisa e o sol,
tudo a me tocar.
E, juntos, nos tornamos um todo,
um só corpo a dançar.

Feliz está minh’alma
que quase chora ao constatar
o quanto de tão pura vida
tenho dentro a pulsar.

Sem saber ao certo como,
sinto a nova série de formar.
Cessam os sons, os pensamentos,
até a gaivota pára no ar.

Tudo parece um sonho,
Daqueles que não se quer acordar.
Mas, abro os olhos, remo para o horizonte,
é hora de tudo recomeçar.

Vanderlei Dutra Filho
(Republicação)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Síndrome do Pânico

"Repentinamente, o coração dispara vindo acompanhado de tontura e falta de ar. Um terrível sentimento de morte iminente sufoca o âmago. Alguns minutos depois, tal estado de extrema ansiedade pode desaparecer, mas a pessoa fica atormentada apenas pela expectativa de que uma outra crise aterrorizante possa ocorrer sem avisar e com a pessoa totalmente indefesa ou vulnerável. É como se ela se sentisse ameaçada o tempo todo, com algo terrível e prestes a acontecer, sem que ela possa prevenir."

Foi mais ou menos isso que eu senti quando voltava para casa após um dia de trabalho, em janeiro de 2005. Devia ser meio-dia, mais ou menos. O sol queimava, de tão forte. Recordo de não ver bem, de o sol ofuscar minha visão e sentir uma tontura, me fazendo cambalear o corpo, que bateu numa grade de uma casa.
A partir daquele dia, minha vida acabou, e outra começou.

Eu mudei. Minha rotina mudou. Minha visão do mundo mudou. Das coisas.
Antes, eu sequer pensava em nada quando me convidaram para simplesmente dar uma caminhada. Eu apenas levantava e ia caminhar. Era mecânico, espontânio, natural. Agora, eu penso, reflito sobre a atividade a qual farei. Em qual lugar andarei, se terão muitas pessoas. Se levarei dinheiro, para caso eu precise comer ou beber algo (fatores como sede e fome me causam crises), tenho que pegar remédios para o caso de uma crise etc.

Parece supersimples falando. Parece que é até exagero. Mas eu queria muito que as pessoas fizessem um exercício(zinho), já que pus aqui minha cara ao tapa, e tentassem, DE VERDADE, lembrar-se ou imaginar-se em uma situação de pânico - uma situação de horror, pavor, não é medo - e sentissem isso por alguns instantes. (Agora). Lembre-se ou imagine o calafrio, o coração disparado, o pavor tomando conta de tudo, corpo, alma, alterando o raciocínio, a percepção de longe, perto, alto, baixo.

Faz anos que convivo com o pânico, quase que diariamente comigo, andando comigo, para onde vou. Já tenho os meus métodos que amenizam os sintomas, mas mesmo assim, veterana, posso assegurar que na hora H, a morte SEMPRE parece iminente.

Quero pedir aqui, também, que as pessoas respeitem mais esta doença. E quero muito dizer algumas coisas:
Primeiro: Síndrome do pânico e depressão não são a mesma coisa e nem sempre quem tem uma, tem a outra.
Segundo: Quem tem síndrome do pânico não é louco, não é lunático, não tem esquizofrenia ou algo assim.
Terceiro: Não banalizem a doença. Não é porque um dia alguém teve fortes dores no peito, por exemplo, pensando ter um enfarto, mas não teve, que ele tem síndrome do pânico. Nem sempre quem não quer sair de casa tem síndrome do pânico. A síndrome do pânico virou moda. Todo mundo hoje "tem" síndrome do pânico. Quando não se sabe o que a pessoa tem, fala-se que a pessoa sofre de síndrome do pânico.
Vou esclarecer: As pessoas, todas, podem ou não ter várias crises de pânico ao longo de sua vida e mesmo assim não sofrerem da síndrome; síndrome do pânico tem aquele que sofre crises quase que ou diariamente. Que muda sua vida em função desse transtorno.
E nunca, nunca diga uma frase como esta: Ai, hoje eu tive uma síndrome do pânico.
Você vai pagar mico!

Fui!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Os anos

Estava eu caminhando hoje pela manhã por longa avenida para chegar ao meu trabalho, quando lembrei de uma fala, de um guru indiano, em um filme, que, quando perguntado sobre sua idade, respondeu: “101, ou 63” (alguma coisa assim), e deu de ombros, sorrindo, como se ignorasse a importância da resposta. E fiquei refletindo sobre isso.

Realmente, que bobagem! Qual a sua idade? É uma das primeiras perguntas que fazemos quando conhecemos alguém. Por que será essa mania? O que há de importante na informação de quando tempo a pessoa está viva?!

Idade, hoje – muito mais do que antigamente –, nada tem a ver com conhecimento, maturidade, inteligência, beleza etc.

E nem mesmo as experiências que a vida nos proporciona nos falam os anos que vivemos. Há gente que nunca saiu de sua cidade, que cultiva rotina simples, e outras que logo chegaram à terra e rodaram o mundo, perderam entes queridos, experimentaram tragédias.

A idade só nos ajuda a tentar “controlar, organizar e programar” nossas vidas. Como se pudéssemos saber quantos anos viveremos... como se tivéssemos controle sobre o que faremos... como se não fôssemos, sempre, surpreendidos a todo momento, fazendo com que mudemos nosso planos a cada hora... como se soubéssemos o que iremos querer no amanhã.

Então, quando estava quase chegando ao meu destino, entendi, ou melhor, lembrei-me o porquê a idade, ou seja, os anos que uma pessoa tem, é tão importante: porque existe a morte!

Não é regra, podemos morrer daqui a um segundo – aliás, quando leres isso, eu mesma poderei não mais estar aqui - , mas partimos, todos nós seres humanos, da premissa de que morreremos velhos. E quanto mais os anos passam, significa que a morte está perto.

Além disso tudo, com a idade, vêm as diferenças hormonal, física e temperamentais...

Confesso que pensar na velhice me assusta... mas isso é papo para outro dia.

Até.