
Monstros que são aqueles sentimentos que fazem parar quando se deve seguir. Quando se tem certeza do que se deve e quer fazer, mas não tem coragem. Aquele medo absurdo de apenas ser quem se é e fazer o que se quer. Sem se preocupar com o que os outros vão pensar - embora sempre se preocupe com essa besteira de tamanho maior. Ou aquela insegurança injustificada, que acompanha - afinal, quando serei segura do que sei? Ou às vezes que se é falso, para parecer melhor do que se é, no exato momento em que está sendo terrivelmente feio. Quando se dá de ombros aos outros e se pensa somente em si. Ou quando se julga as pessoas, como se fosse superior a elas. Como se não fosse tão humana quanto elas, e não pecasse por isso.
Os monstrinhos são como pesadelos. As doenças. As dores. Os preconceitos. Falta de senso de justiça. De compaixão. E não adianta dizerem que não têm monstrinhos porque senão terão que dizer que também não são gente de verdade.
O fato é que para acertar, tem que dominar os monstros internos. Ignorar o que eles dizem. Para sentir vergonha na cara, ou menos vergonha de tudo. Para enfrentar com mais força o que impede de algo. Seja o que for.
Mais verdade ainda, mesmo, é que, não tem jeito, os dias passarão e algumas pessoas também passarão, e talvez quando dominarmos os monsttinhos demoníacos, não poderemos recuperar a chance de agora. Para fazermos do jeito nosso. Sem titubear. Afinal, quando estamos mais maduros de tudo, é quando estamos velhos, e também mais perto de morrer. E quando mais temos 'vida pela frente', somos tão ridículos. E deveria ser o contrário. Devíamos nos dar o luxo de sermos idiotas ao envelhecer. E não sermos corretos e sábios. Cheios de moral e caráter. Não existe perfeição - talvez algumas pessoas precisem ouvir isso -, as coisas não são perfeitas. Simplesmente porque sempre pode ser melhor. Mais viável. Mais fácil.
Então, assim que eu amadurecer, e meus cabelos ficarem brancos, meus demônios talvez mudem de estratégia. E me peguem do outro lado do beco, assim que eu achar que os deixei lá atrás de mim.
E aí, estatei velho, sem nem um terço das chances e probabilidades que hoje tenho. Mas mais forte, certamente. E aí olharei com amargura para o que ficou engavetado. E desejarei estar aqui outra vez, para ser diferente, para melhor. E não errar à vez minha. Fazer e ser exatamente aquilo que eu quiser e puder. Lembrando que o "puder" é muito flexível. Porque na maioria das vezes isso só depende de querer.
Mas talvez eu não saiba tão bem disso, agora... ainda.
Sinara Dutra