quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Momento Musical

Usarei este espaço por tempo indeterminado para falar sobre música. Pois minha ligação à musicalidade é intensa e íntima. E serve-me como forma de terapia.
Aqui, falarei sobre canções, letras, autores e intérpretes.
"A musicalização é o processo de construção do conhecimento musical, cujo principal objetivo é despertar e desenvolver o gosto pela música, estimulando e contribuindo com a formação global do ser humano."
Nesta terceira edição de meu "Momento Musical", como classifico minha fase, onde escrevo meus textos relacionados à música e musicalidade; os artistas que as trazem para nós e os criadores desta arte sonora, minha terceira escolhida é Marina Lima. Veja abaixo:

A cantora das canções inesquecíveis
Por Sinara Dutra
Décadas de 80, 90. A música soa à voz da "moderninha" Marina Lima.
Suas músicas tiveram repercussão nacional e tocavam por todos os lugares, das boates às rádios de shows a novelas.
Ídolo nacional; A voz feminina do pop, da MPB, dos adolescentes, dos adultos descobrindo uma nova voz; ouvia-se por todos os buracos e por todas as idades "À Francesa".
E, em "Pra começar", refletia em voz alta: Pra começar / quem vai colar os tais caquinhos do velho mundo / pátrias, famílias, religiões / e preconceitos / quebrou não tem mais jeito./ Agora descubra de verdade o que você ama / e tudo pode ser seu.
E quem não cantarolava ou sabe a letra de "Fullgás"?!: Meu mundo você é quem faz / Música, letra e dança / Tudo em você é fullgás... / Você me abre seus braços e a gente faz um país...
Cantou Lobão, "Me Chama". "Chove lá fora e aqui / Faz tanto frio / Me dá vontade de saber / Aonde está você / Me telefona / Me chama, me chama, me chama..."
Morou dos cinco aos 12 anos nos Estados Unidos. Lá ganhara do pai um violão, talvez para distrair-se e não lembrar o país abandonado.
Anos depois, admitiu que após ver e ouvir Gal Costa, fora paixão à primeira vista. E aos 17 anos, após musicalizar poemas do irmão Antônio Cícero, com quem teve parceria em muitas canções, retorna ao Brasil e tem uma canção sua cantada pela própria cantora Gal Costa, seu ídolo. Uma canção sua ainda quase fora gravada por Maria Bathânia, mas antes censurada e proibida.
Numa época em que a sexualidade era tabu, sua bissexualidade era orgulho e estímulo para quem se calava e se reprimia em uma sociedade ainda mais imatura e preconceituosa.
Dona de uma discografia de mais de 20 álbuns, e cerca de 11 Ouros, tem sua carreira ameaçada no ano de 1993, após problemas pessoais e a morte de seu pai, culminando no mergulho profundo da depressão, que lhe afastou dos palcos. Tal doença lhe causou danos nas cordas vocais.
E em 1998, o mundo nota sua deficiência vocal. Porém, sem cessar mais, anuncia que está fazendo aulas de canto e fono, "para reaprender a usar sua voz". Não para mais.
Hoje, com 54 anos, lança "Lá nos Primórdios", novo álbum baseado no show "Primórdios", um espetáculo, que uniu, ano passado, a música visceral da cantora com elementos de dança, teatro e artes plásticas, dirigido por Monique Gardenberg, e que não deixou uma cadeira sequer do Auditório Ibirapuera ficar vazia. Não era pra menos: Marina construiu ali uma verdadeira experiência sensorial – e muito emocionante – para seu público.
Em 2010, lançará o livro "Marina Lima Entre as Coisas, que conta o que falou nas diversas entrevistas que deu ao longo de sua carreira polêmica.
Marina Lima é história na música brasileira. É nome forte, conhecido por várias gerações. Suas canções foram e são cantadas de cor, e uma ou mais delas faz ou fez parte da sua vida.
Conheça a discografia de Marina Lima: http://vagalume.uol.com.br/marina-lima/discografia/marina-lima.html.
Conheça seu novo trabalho: http://br.musicamp3.com/0335872/Marina_Lima/La_Nos_Primordios_/


O estandarte do sanatório geral de Chico Buarque
Por Sinara Dutra
“‘Vai passar nessa avenida um samba popular’, Chico Buarque de Hollanda, compositor.
E ‘ao lembrar que aqui passaram sambas imortais, que aqui sangraram pelos nossos pés, que aqui sambaram nossos ancestrais’, o escritor Chico Buarque imortalizava ao tom das marchas de sambas dos velhos e saudosos carnavais a história de um Brasil que contou e cantou em épocas de repressão e regime militar. Às épocas em que o “aqui” tão referido era o país já tão massacrado porém mais defendido e menos acovardado.
‘Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória’, o Chico exilado na Itália, falando três línguas, tornou-se professor.
‘Das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações’, Chico Buarque narrava a morte lenta de um país morto de fome, calado às bocas às forças (armadas) em clara e despeitada represália à crítica e à censura à liberdade de expressão dos ides de 1969, voltando à sua Pátria Amada como o artista mais ativo na crítica política e na luta pela democratização do Brasil. Chico Buarque de Hollanda, carioca, brasileiro.
‘Palmas pra ala dos barões famintos, o bloco dos napoleões retintos e os pigmeus do boulevard’, Chico ironizava neste trecho a burguesia e à ignorância dos poderosos como cronista.
Sua Roda Viva, obra teatral de muita repercução e sucesso, que virou símbolo da ditadura militar, teve seu cenário invadido por cem pessoas do Comando de Caça aos Comunistas que depredou o cenário e espancou os artistas: ‘Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar, a evolução da liberdade até o dia clarear’, Chico, dramaturgo.
Sim, a ‘evolução da liberdade’ que sucedeu-se graças a muitos artistas brasileiros, que não calaram a sua voz , como Chico, cantor.
Mas também poeta, ator e um dos homens mais inteligentes da nossa classe de estrelas que brilham no cenário mais rico de nossas artes.
Chico Buarque de Hollanda, tímido e ‘devagar’, foi ganhador do mesmo festival que popularizou a frenética porém sutil Elis Regina, ganhadora do I Festival Nacional da Música Popular Brasileira, a qual Chico ganhara sua segunda edição, e, no dia 10 de outubro de 1966, data da final, iniciou o processo que designaria Chico Buarque como unanimidade nacional, ultrapassando décadas e se fortalecendo cada vez mais como compositor e cantor, reconhecido nacional e internacionalmente.
Chico Buarque compôs Atrás da Porta e Cio da terra, que Elis Regina interpretou com suas performances ímpares; e diversas canções gravadas e interpretadas por Milton Nascimento, Oswaldo Montenegro, Angêla Maria, Ney Matogrosso, Cauby Peixoto etc, sendo ele parceiro de Tom Jobim, Caetano Veloso, Vinícius de Moares, Toquinho dentre tantos. E, com Vinícius de Moraes em sua alta sensibilidade, pintou a MPB de cinza com a tristeza da história fidedigna do povo brasileiro em “Gente Humilde”, e coloriu debochadamente com nossos verdes louros com “Vai passar” a história da música nacional.
Conheça a discografia de Chico Buarque: http://vagalume.uol.com.br/chico-buarque/discografia/.








A intérprete da vez: Maria Bethânia. Veja abaixo.

Por Sinara Dutra
Me apaixonei pela Bethânia faz poucos meses. Bastou ouvir Fera Ferida, gravação marcante feita por Roberto e Erasmo Carlos para que eu me interessasse por tudo que ela fazia.
E ao procurar e ver o que era Bathânia, apenas constatei a diva, a majestosa mulher e cantora que contribiu com a construção da música popular brasileira - rica e deslumbrante.
Ela tinha dezessete anos quando saiu de uma cidadezinha no estado da Bahia, chamada Santo Amaro. Tímida, tranquila e dona de uma voz forte e suave.
Caipira e admitida caipira, diz que acha a caipirice a coisa mais chique do Brasil, e mais, que duvida que uma pessoa com seu juízo no lugar não queira uma casa no interior.
Pensou em não cantar por vergonha, timidez.
Nega convites de entrevistas, programas, apresentações porque prefere a sua casa, porque prefere cozinhar para os amigos e tomar cerveja para rir um pouco e viver seu lado criança o maior tempo possível onde se encontra à vontade.
Caipira tímida que, quando sobe no palco deixa a menina de Santo Amaro, e revela a mulher forte, macho sim senhô, e cheia de escrúpulos que quando abre a boca faz com que todos presentes se calem para apreciarem tamanha perfeição de voz e uma simplicidade generosa numa carcaça áspera de pés sujos e postura entregue à fotografia da arte em forma de mulher.
Intérprete, foi a primeira mulher a superar a marca de 1 milhão de cópias vendidas de um álbum.
Intérprete que homenageia àquele que tem sua canção gravada por ela pela tamanha carga de dramaticidade dada por si nos palcos e em cada letra falada/cantada pela voz anasalada, completamente inconfundível.
Gravou mais de cinquenta discos que não seguiram nenhuma regra. Nunca gravara nada que não quisesse, falado algo que não pensasse ou cantado algo que não se encaixasse com pedaço de si
Como não posso deixar aqui as centenas de obras adaptadas por Maria Bethânia, deixo uma pedida de um vídeo com uma canção cantada e interpretada por ela, de Rita Lee.
http://www.youtube.com/watch?v=P0vMLr1vYko
Conheça a musicalidade de Maria Bethânia.
http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/ver/maria-bethania





Nenhum comentário: