quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nos bastidores da "festa"

Fico pensando, quando estou em alguma festa, por exemplo, que atrás de alguns tijolos há pessoas trabalhando para que meu prato esteja servido, meu copo cheio e meu divertimento mais prazeroso.
Assim é em quase tudo.
Quando nos bares e restaurantes, boates, turmas às conversas distraídas da semana e seus pedidos sendo preparados na cozinha que se esconde atrás de algumas portas.
E quanto aos zoológicos, que fazem a diversão das crianças, conhecendo girafas, elefantes e tantos outros animais, e do outro lado estão os bichos aprisionados em jaulas, como amostras, assim como sapatos em vitrines.
E nas pessoas que me lêm agora, falando mais uma vez sobre a justiça e a democracia, que pensam eu ser uma demagoga, que falo mas não faço, que julgo mas não me autocritico; que só sei falar. E se falo, que só falo sobre as injustiças em relação aos animais e não a respeito dos seres humanos.
Pois bem, cá estou fazendo o que acho ser justo, mais uma vez.
Falando por quem não tem voz para se defender.
E falo porque quero e não porque só isso sei falar ou apenas isso me interessa.
Poderia falar do que quisesse. Porém, no momento, não consigo me manter indiferente. Porque mais uma vez, uma "festa" será feita em cima de uma matança, animal.
A Expointer é uma feira agropecuária de destaque nacional. É considerada a maior exposição de animais da América Latina.
A feira é um grande símbolo da utilização de animais pelos humanos.
A cada ano, a "festa" ganha mais público. Cada vez mais e mais. E assim, mais animais são expostos e mais animais são mortos.
E fico me indagando, de forma geral e abrangente: por que no mundo, para que alguém esteja gozando de sua felicidade, alguém ou algo têm que sofrer danos?
Por que não as coisas serem democraticamente justas?
Quando os humanos poderão ver que suas fraquezas nem sempre poderão livrar as culpas de seus erros?
Que não são superiores a nenhuma outra espécie.
Que não, não precisam comer carnes para sobreviverem, sapatos e casacos de pele para ficarem mais bonitos, elefantes equilibrados em bolas em circos para se divertirem e tantas outras formas de exploração animal que apenas demonstra a covardia e a vaidade humana.
A realidade é que, os animais hoje, embora os protestos, os argumentos carregados de fundamentos éticos e dignos, são vistos e tratados por nós, assim como os negros eram tratados pelos brancos em um tempo em que, mais uma vez, os homens se julgavam superiores.
E sem mais palavras, mais uma vez, me refugio em Voltaire, a sua vez tão valoroza de expôr a sua verdade, a mim, tão clara e óbvia:
"Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, idéias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento.Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias.Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à natureza tão impertinente contradição."
Que o tempo mostre a verdade e o caminho a quem não enxerga a luz da verdade e do progresso interior.
Sinara Dutra

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