quarta-feira, 15 de abril de 2009

Palhaços tristes

Num mundo onde tudo era sério, as pessoas comedidas, em tons de cinza e preto, músicas tristes melancólicas, como as de Maísa, de repente num abrir os olhos para nossa realidade, vemos um colorido que fala por si; uma liberdade que é reparada em cada fala, em cada jesto, em cada olhar.
As músicas falam de sexo, de festas, de alegria. Não existe mais o amor platônico de antigamente, mas as vinganças, consequências de traições amorosas. O próprio amor já não existe mais. Aquele amor que carregava consigo um respeito que desprendia-se de um desejo.
Progredimos em alguns aspectos e regredimos ou pioramos em outros. De fato, estamos aprendendo a andar sozinhos, com nossas próprias pernas. Cada um com seu estilo, cada um com a sua banda. É cada um na sua e deixem pra lá o cada um dos outros, como fala a gíria popular.
Nas outras épocas, a 'coisa pública' não era menos ilícita, apenas menos sabida.
Em algum tempo valioso, derrubamos presidente. Nós, o povo.
Voltando mais no tempo, e muitas vitórias de hoje começaram pelos pequenos e corajosos passos de alguns que deram sua face ao tapa, sem titubear.
E em pleno século XXI, o que de tudo vale, o que de tudo se vê e ouve, o povo ainda se prende a pequenos costumes e caretices que até os antepassados nossos ririam hoje.
Não damos mais pequenos passos para longas caminhadas futuras, como assim fizeram os jovens de outrora; não derrubamos mais presidentes, por mais podres que sejam; nem temos mais a elegância de um tempo que era, sim, em tons de cinza e preto, com canções melodiosas que falavam de amor, o amor verdadeiro, com respeito, cafona e pudico. Nosso mundo é outro.
E que pena não poder ter podido brincar na rua até o anoitecer.
Dormir com a janela aberta, para sentir o vento da madrugada ou olhar a lua cheia até o sono chegar.
Morar numa casa sem grades, sem cadeados; com um jardim cheio de flores e plantas frutíferas.
Respirar o ar puro dos jardins que hoje viraram prédios arranha-céus.
Curtir os Carnavais de antigamente, como minha mãe sempre me narra, com bastante entusiasmo e saudosismo.
As varandas... ah, as varandas...! Existiam varandas enormes nas casas. E todos sentavam ali, e conheciam seus vizinhos, e se cumprimentavam sentados em suas cadeiras de balanço.
Sou de uma geração covarde, medrosa. Destruidora, metida, vaidosa demasiado e ignorante.
Adolescentes bobos com seus narizes de palhaços invisíveis.
Não protestam, não reclamam o que é de seu direito.
Preferem pichar as praças, queimar as matas, se aglomerarem em becos escuros para descontarem em seus corpos e mentes as dores de uma alma sem forças para mudar o que não aceitam.
É mais fácil apagar a luz do que ver o tamanho da merda.
Sinara Dutra