quinta-feira, 7 de maio de 2009

Queria

Ter um beijo que tivesse o dom de curar qualquer coisa, desde leves machucados até as angústias dos peitos mais doloridos.
Ser dotada de poderes para mudar a realidade que não aceito e não posso modificar.
Ter noções básicas de enfermagem e fosse catedrática em medicina da alma. Que aplicasse curativos nos ferimentos do corpo e colocasse bálsamo nas chagas da alma ferida e magoada. Mãos que soubessem acarinhar, mas que fossem firmes para transmitir segurança aos amigos de passos vacilantes.
Mãos que soubessem transformar um pedaço de tecido quase insignificante numa roupa especial para quem sente frio.
Por ser 'humana', deveria ser dotada de muitos pares de olhos.
Um par para ver através de portas fechadas, através de paredes, distâncias, cortinas, obstáculos, aqueles que amo.
Outro par para ver o que não deveria, o que não queria, mas que preciso saber e olhos normais para fitar com doçura uma criatura em apuros e lhe dizer: "eu te compreendo, não tenhas medo. Eu te amo", mesmo sem dizer nenhuma palavra.
Um modelo delicado mas resistente, capaz de resistir ao vendaval da adversidade e proteger os fracos, de superar a própria enfermidade em benefício dos meus amados e de alimentar uma família com o pão do amor.
Alguém com capacidade de derramar lágrimas de saudade e de dor, mas ainda assim insistir para que o outro parta em busca do que lhe constitua a felicidade ou signifique seu progresso maior. Alguém com lágrimas especiais para os dias da alegria e os da tristeza, para as horas de desapontamento e de solidão.
Alguém de lábios ternos que soubesse cantar canções para acalmar, animar e palavras certas para alguém arrependido pelas tolices feitas.
Lábios que soubessem falar de alegrias, do universo e do amor. Que cantassem poemas de exaltação à beleza da paisagem e aos encantos da vida.
Alguém diferente da imagem que vejo no espelho fiel do retrato que sou e represento na vida.
Alguém melhor.
Alguém que apenas não lamentasse.
Alguém que não fizesse, por algum ato besta, direto ou indiretamente, mal a alguém e que protegesse a todos que sentem dor e estão abandonados.
Dizer-lhes que me importo com suas dores, mas que minha fraqueza me proibe de lhes salvar do mal que eu almejo não mais ver em mim.
Sinara Dutra