sexta-feira, 12 de junho de 2009

A menina-mulher Fernanda
Ser criança é achar que o mundo é feito de fantasias, sorrisos e brincadeiras; Ser criança é comer algodão doce e se lambuzar; Ser criança é acreditar num mundo cor de rosa, cheio de pipocas; É ser inesquecivelmente feliz com muito pouco; É se tornar gigante diante de gigantescos pequenos obstáculos; Ser criança é fazer amigos antes mesmo de saber o nome deles; É conseguir perdoar muito mais fácil do que brigar. Ser criança é ter o dia mais feliz da vida, todos os dias; Ser criança é estar de mãos dadas com a vida na melhor das intenções; É acreditar no momento presente com tudo o que oferece, é aceitar o novo e desejar o máximo; Ser criança é chorar sem saber porquê; Ser criança é estar em constante estágio de aprendizado, é querer buscar e descobrir verdades sem a armadura da dúvida; Ser criança é olhar e não ver o perigo. Ser criança é ter um riso franco esparramado pelo rosto, mesmo em dia de chuva, é adorar deitar na grama, ver figuras nas nuvens e criar histórias; Ser criança é colar o nariz na vidraça e espiar o dia lá fora; É gostar de casquinha de sorvete, de bolo de chocolate, de passar a ponta do dedo no merengue; Ser criança é acreditar, esperar, confiar; E é ter coragem de não ter medo; Ser criança é querer ser feliz; Ser criança é saber embrulhar desapontamentos e abrir caixinhas de surpresas; Ser criança é sorrir e fazer sorrir; Ser criança é ter sempre uma pergunta na ponta da língua e querer muito todas as respostas; Ser criança é misturar sorvete com televisão, computador com cheiro de flor, passarinho com goma de mascar, lágrimas com sorrisos; Ser criança é errar e não assumir o erro; Ser criança é habitar no país da fantasia, viver rodeado de personagens imaginários, gostar de quem olha no olho e fala baixo; Ser criança é pedir com os olhos; Ser criança é gostar de sentar na janela e detestar a hora de ir para a cama; Ser criança é cantar fora do tom e dar risadas se alguém corrige; Ser criança é ser capaz de perdoar e anestesiar a dor com uma dose de sabedoria genuína e peculiar; Ser criança é andar confiante por caminhos difíceis e desconhecidos na ânsia de desvendar mistérios; Ser criança é acreditar que tudo é possível; Ser criança é gostar da brincadeira, do sonho, do impossível; Criança é saber nada e poder tudo; Ser criança é detestar relógios e compromissos; É ter pouca paciência e muita pressa; E ser criança é, também, ser o adulto que nunca esqueceu da criança que foi um dia; O adulto que consegue se reencontrar com a criança que ainda vive no seu íntimo e mais precioso território; Aquele pedaço que justifica todos os percalços e que dignifica todos os tropeços; A ingenuidade restaurada no dia-a-dia e que o transforma em herói ao reler as histórias de sua própria vida, narradas pela criança que o abraça, nas entrelinhas de um tempo que permanece imutável porque sagrado; O tempo do princípio, da origem, da própria essência.¹
Fernanda é criança, é adolescente, é mulher madura, é humana.
Criatura que, como todos seres humanos, carrega consigo por toda sua tragetória a criança que jamais morrerá dentro de si.
Ser criança é não ter vergonha de se fazer feliz. Ser criança é um dom que todos carregamos por onde formos, até o fim de nossos dias, até a velhice de nossos corpos, e o último sorriso que daremos num rosto castigado pelo tempo de ventanias e invernos com tempestades, que resplende no mesmo infantil e lúdico de um remoto começo.
Sinara Dutra
¹Autor, por mim, desconhecido
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