terça-feira, 16 de junho de 2009

O circo diário
Escrevo às 7h30min em um outuno frio de uma manhã cinza que promete sol. Faz 15 graus. Pessoas andando às pressas, subindo e descendo de ônibus lotados e também apressados.
Uma manhã sem graça e, da vida, apenas planos a curtos prazos "almoçarei em casa, talvez no Boteco do Zé". Do resto, quem saberá?
Meus olhos observam os olhares perdidos de quem viaja de pé no balanço do coletivo. Imagino que pensam em suas contas que vencerão ao final do mês.
Aqui, é possível ver as expressões de sono das pessoas, eretas, abraçadas aos ferros de segurança dos carros abarrotados de passageiros.
Posso sentir seus hálitos. Suas baforadas de café; espirros com muco; seus perfumes enjoativos e bons.
Posso ver em suas mochilas, uma quantidade absurda de coisas, o que indica que passarão o dia inteiro fora de casa, por isso levam casacos mais quentes, caso necessário, ou para o anoitecer; comidas em potes, para almoçarem sem custo em restaurantes, mp3 para aguentar as longas esperas e o tempo só, aos pensamentos aleatórios que vão de uma alegria estantânea a uma infelicidade sem razões.
Sou passageira do B56. Me dirigo ao aeroporto, para após pegar o metrô e dirigir-me à minha empresa.
Da janela, posso ver a quantidade de gente dentro de suas roupas, nas calçadas e paradas, uns sorrisos soltos ao ar frio, fazendo com que a temperatura quente da boca provoque uma fumaça branca. E alguns rostos sérios, depressivos, exaustos .
Meu passeio é pura observação. Ali, quentinha, com meus pensamentos soltos e perdidos em minha cuca. Faço da minha viagem monto um álbum de fotografias de rostos e expressões, para distrair-me e não pensar na vida.
As lojas se abrem, aos poucos, ao longo do meu trajeto. As ruas tomam cores, sons. E os coloridos invadem a cidade; mantas, tocas, luvas, mochilas, pastas etc.
Almas em corpos perfeitos e imperfeitos; sonhos, desejos e ânimos distintos, sentados juntos no mesmo banco.
Tudo e todos com suas coisas, na democracia de ir e vir, no ganho de sua sobrevivência.
Sigo meu curso e, de repente, chego a meu destino.
Tudo já está montado. A cidade acordada e suas praças avivadas. O circo todo armado em lonas que não permitem que a tudo vejamos. O circo da vida. Colorido, (des)organizado e tediante quando não trágico.
As surpresas também às vezes aparecem...
Sinara Dutra

Um comentário:

Ângela Tagliapietra disse...

O mais leal de tudo é olhar as expressões das mais cansadas, as mais felizes, as conversas altas, algumas sem a menor compostura, e daí? somos todos seres humanos e estamos no mesmo trem, certo? E surpresas todos os dias, pode ser uma surpresa simples, uma pessoa que te oferece um café por um simples ato de gentileza ou uma surpresa mais sofisticada como uma janta inesperada quando chegamos em nossa casa, essa a vida! Idas e vindas, o importante é ter um foco! Com mochila cheia de tralhas nas costas e vontade de ser feliz e atingir os objetivos, caso contrários os trens estariam vazios e vida perderia a graça.