quinta-feira, 23 de julho de 2009

A vida de verdade
Ficar quatro dias em casa, acamada, assistindo televisão e sem viver a vida lá de fora dos portões que me protegiam, me fizeram, mais do que nunca, supervalorizar o meu espaço que, por vezes diversas, acreditei ser meu mundo.
Em dias de frio, o melhor é ficar queita, agasalhada, reunida e munida do melhor, subjetivamente falando.
Para uma pessoa que antipatiza com estranhos e humanos, sua casa, cercada de suas coisas, e principalmente, as pessoas que mais gosta e sente-se bem, pode ser um paraíso a portas fechadas, sem pensar muito.
E quantas vezes, padeci em silêncio por coisas que eu nunca aceitei porém tampouco as mudei. E por isso que tantas e tantas vezes eu, sem sucesso algum, tentei esquecer o que não achava justo e tentava apenas me centrar no que me faria feliz, trancada em meu quarto, esquecendo-me que, o que me fazia triste me impedia de alcançar a almejada felicidade, que não existia sem a minha não aceitação das injustiças, mas muito do meu protesto constante contra o que feria outros e a mim por consequência.
Então percebei que o que me invadia tão arrebatadoramente, ao contrário do que pensava, precisaria de muito para, quem sabe, me fazer viver a vida inteira de forma alienada e despreocupada.
E hoje quando saí de casa por essa manhã, nos primeiros quilômetros que percorri na ida para meu local de destino, um mato verde extenso cheio de bichos distraídos me chamaram a atenção, fazendo-me companhia boa parte da viagem. Ali estava a vida. Eles eram a vida que eu não via de minha janela.
Os bois enfrentavam o frio de 7 graus daquela manhã cinza. Andavam devagar, comiam e seguiam, sem darem um passo atrás.
Segui e então os carros é que me faziam companhia. Logo estava nas avenidas abarrotadas de automóveis da Guilherme Shell. E a vida novamente estava ali. Nos trabalhadores que levantavam para abrirem seus bares. Nas faxineiras das ruas, que lutavam com o vento para varrer as poeiras para suas pás. Nas ondas e marolas que surfistas pegam carona para tentarem voar. Nas praças e nos voos das aves de árvores em árvores. Nos rostos na multidão. Nas esquinas e nas surpresas de cada rua. No amanhecer em cima dos morros e nos anoiteceres nas gélidas serras, cerradas de paz.
E então, os minutos passaram, como de costume, sem que eu notasse, entretida em meus afazeres desgostosos, quando vi a noite caindo singela.
Logo ela era presente e eu estava na janela envidraçada ao alto da Cândido Machado e podia ver as luzes no trânsito doido e boa parte comportado e lento das faixas da Federal. E fiquei ali, de mãos nos bolsos, olhando aquela vida toda tão cheia de energia, entusiamos e espectativas.
E então amei estar ali. Vendo e ouvindo a vida buzinando lá fora, berrando enquanto o giro do globo, que não percebemos.
E meu cansaço se transformou em vontade de sentir mais a vida tocando meu corpo em forma de vento. Ou no gole estupidamente gelado que desce congelando goelas amarguradas e/ou venenosas. Nas canções gostosas que nos fazem querer demais morrer dançando. Nas tardes de praia ao som das ondas com seu vai e vem incessante.
À madrugada, retono a meu lar, aonde existe vida também, mas a vida que nada me cobra, a que eu inventei o roteiro e certo e a verdade.
Sinara Dutra

Um comentário:

Ângela Tagliapietra disse...

É demais sentir essa energia que passa de pessoas para pessoas de objetos de animais da natureza do planeta! No entanto acho que a vida nada cobra, mas tu mesmo te cobras, às vezes somos exigentes com sentimentos, preparos, somos os nossos porta bandeiras e quem fizer um protesto contra nós que nos dê um bom motivo para mudarmos, concordas garota?Inventas um roteiro e segue ele? Então é como estivesse vivendo em um grande espetáculo e lidando com personagens e que em algum momento alguém, algo pode ser descartado ou perdido como uma nota de cinco reais que às vezes perdemos e depois achamos e dizemos: olha que sorte! A verdade relativa, quem sabe omitimos anseios? Cada pessoa nesse mundão acredita na verdade que lhe convém, assim evita sofrimentos, barreiras, as coisas ficam muitas vezes mais fáceis, isso é a vida um grande cenário com muitos assistindo de camarote outros no mezanino. Achei maravilhoso o jeito como tu “pescou” diversas emoções e cores no teu caminho, essa é a vida força por todos os lados, claro que nem tudo são um misto de rosas brancas com vermelhas e beira mar no pôr do Sol, entretanto é doce e é feliz. Bela aura e leve pensar...